Caio Magri http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br Com foco em responsabilidade social corporativa, aborda tanto as questões críticas quanto as boas práticas nas agendas das desigualdades, dos direitos humanos, de integridade e ética, e do meio ambiente. Sat, 21 Mar 2020 14:48:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O que as empresas podem fazer para mitigar os efeitos do coronavírus? http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/03/21/o-que-empresas-e-pessoas-podem-fazer-para-mitigar-efeitos-do-coronavirus/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/03/21/o-que-empresas-e-pessoas-podem-fazer-para-mitigar-efeitos-do-coronavirus/#respond Sat, 21 Mar 2020 14:45:06 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=73 A crise com a pandemia do novo coronavírus nos coloca diante significativas mudanças em nossos modos de ser e agir. Muito além dos aprendizados em higienização pessoal e dos ambientes, a doença Covid-19 nos diz que a ação coletiva pode salvar vidas. Pensar além das bolhas, que tanto pautaram atitudes nos últimos tempos, é imprescindível para conter a escalada da transmissão.

Mas com o que mais somos confrontados? Se é necessário pensar e agir em prol do outro, do coletivo, quais ações podemos adotar para mitigar riscos?

Ressaltamos que independentemente das medidas sugeridas pelo governo temos que garantir a premissa do que entendemos como desenvolvimento sustentável, que se alicerça em garantirmos condições dignas para trabalhadoras e trabalhadores, a fim de não ampliar as desigualdades já tão intrínsecas em nosso país.

A redução da jornada de trabalho e consequente diminuição salarial deve ser observada não apenas do ponto de vista do empregador, há questões econômicas e sociais que precisam ser consideradas. Assim como a situação de quem trabalha informalmente, sem vínculo empregatício.

As empresas, que detêm poder e são agentes de mudança de paradigmas, têm um papel social que vai além da preservação de seus colaboradores e da manutenção de suas atividades e de sua própria lucratividade.

Postergar os pagamentos de empréstimos, adiantar pagamentos à vista a pequenos e médio fornecedores e apoiar a linha direta de enfrentamento à doença, como se dedicar a produção de álcool gel, são atitudes muito bem-vindas.

Mas é preciso mais. É importante reconhecer o impacto ainda incalculável para a economia brasileira, para a balança comercial e para a dinâmica de diferentes setores da indústria, sem nos apartarmos de uma reflexão sobre a distribuição desigual dos riscos, afetando mais fortemente os desempregados — inclusive os mais jovens — e, como já antecipamos, os trabalhadores informais e sem coberturas trabalhistas, população negra e mulheres. As desigualdades fazem com que pessoas mais pobres se tornem as mais afetadas.

Não somos vítimas passivas desses processos e ainda podemos fazer muito para reduzir os riscos da pandemia pela perspectiva ecológica ou seus efeitos pelo âmbito preconizado, pelos direitos humanos, pela redução das desigualdades e manutenção de mecanismos e instituições republicanas e democráticas. Mais do que nunca, as premissas de um desenvolvimento sustentável se mostram tão urgentes.

Apoiar essas iniciativas significa ir além do esperado, estabelece novos parâmetros de atuação e reforça o protagonismo das empresas em atuar para que possamos, o quanto antes, recuperar aquilo que conhecemos como normalidade. Mas, indubitavelmente, reforçados pelos aprendizados que estamos adquirindo ao longo dessa jornada.

Estamos diante de algo novo, não totalmente inesperado, mas ainda assim novo. E com o qual estamos descobrindo como lidar conforme lidamos. Muito se tem esperado quanto a posturas que as empresas devem adotar, seja para proteção do quadro de funcionários, mas sobretudo para evitar a propagação desenfreada da Covid-19. Além de proteger a si mesmo, é preciso ajudar a sociedade como um todo, principalmente as pessoas mais vulneráveis e expostas, mudar atitudes que poderão influenciar futuramente os modos de ser e agir na sociedade.

Desde as grandes tomadas de decisão, como fechar temporariamente estabelecimentos, sem a dispensa de funcionários, até o afastamento dos prestadores de serviço doméstico mantendo a remuneração, todas as atitudes devem ser revistas a fim de adotar medidas de prevenção para frear ao máximo a transmissão.

É bem verdade que não estávamos prontos para isso, já que, mesmo observando o que já era uma realidade em outros países, muitos de nós não encararam com seriedade essa situação. Ou seja, um dos aprendizados desse momento é justamente enxergar nas entrelinhas e entender o quanto as empresas precisam ter planos de enfrentamento a crises.

“Todo mundo que tem um salário, que tem uma poupança, que tem um trabalho que pode ser feito remotamente, que vive em uma casa que comporta confortavelmente seus moradores, que tem um carro para não precisar usar transporte público – essas pessoas são privilegiadas neste cenário. Não por acaso, provavelmente são os mais privilegiados na sociedade também”, escreveu Andrew Fishman no Intercept.

Sim, há diferenças entre quem enfrenta essa crise enquanto empregado formal (CLT) e quem se arrisca no comércio das ruas em contato próximo com várias pessoas porque se não vender, literalmente não terá o que comer. Trabalhadores informais não possuem vínculos trabalhistas e têm renda que depende diretamente do número de vendas e prestações de serviço. Caso fiquem doentes, impossibilitados de trabalhar por um período, a renda, que já é menor que a de trabalhadores formais, sentirá o impacto.

Daí o papel importantíssimo dos governos em implementar ações que busquem apoiar essa camada. Empresas que contam com esse tipo de contratação de mão de obra, como os motoristas e entregadores de aplicativos, já têm adotado medidas para mitigar a contaminação, oferecendo 14 dias de assistência financeira para que os motoristas mantenham uma renda durante o período que estão impossibilitados, pois o período equivale ao tempo de incubação do novo coronavírus, que começa a apresentar sintomas entre 2 e 14 dias após a contaminação.

Quanto aos indígenas, é imprescindível evitar ao máximo que sejam afetadas. Até o momento não há casos suspeitos de coronavírus na população indígena. Mas não podemos desconsiderar em nossas reflexões o panorama para os povos originários, sobretudo os isolados, dada a precarização da SESAI, a explosão desproporcional do desmatamento, destruição das florestas, o avanço do homem branco, de práticas ilícitas e até práticas religiosas que ameaçam o modo de vida e podem colocar em risco a política de não contato que evita epidemias e massacres.

Como medida de prevenção, a Apib já anunciou o adiamento do 16º Acampamento Terra Livre que reuniria milhares de indígenas em Brasília em abril. A Covid-19 é uma doença não indígena e os Distritos Sanitários Especiais Indígenas não estão estruturados para atender casos afetados pelo coronavírus. Por isso, a importância da cobrança de soluções, proteção ao modo de vida e aos territórios indígenas, da segurança a esses territórios e atendimento da Sesai em tempo hábil. Também é importante reconhecer a participação dos próprios indígenas para as alternativas de enfrentamento.

Como as empresas podem agir?
De uma forma geral, todas empresas estão – ou deveriam estar – revendo a forma de atuação neste momento. A recomendação é que as pessoas fiquem em casa, reduzindo o contato social. Nesse sentido, liberar o acesso a canais de TV por assinatura e até mesmo a postergação de prestações de empréstimos são atitudes bem-vindas.

As empresas devem traçar cenários possíveis e delinear atitudes a serem adotadas, sempre pensando nas pessoas e na manutenção da operação da organização. Devem receber atenção especial eventos planejados para os próximos meses e viagens de trabalho, programando alternativas que possam ser acionados, considerando as mudanças de cenário da doença no cenário local, nacional ou internacional.

Planos de contingência para preservar a saúde de seus colaboradores e frear o ritmo de transmissão do novo coronavírus têm sido adotados, primeiramente por parte de grandes empresas multinacionais, grupos globais, que contemplam, entre outras:

Ações de comunicação preventivas, como divulgar comunicados de prevenção ou de principais dúvidas;

Incentivo a hábitos de higiene, pela disponibilização de álcool gel para uso dos colaboradores e o constante reforço à limpeza;

– Recomendação para que colaboradores que estejam gripados ou resfriados permaneçam em casa;

– Criação de comitês de crise, para a revisão de estratégias e planos no novo cenário;

Quarentena para profissionais que fizeram viagens ao exterior ou até mesmo pelo país;

Revisão de planos por meio do cancelamento/ adiamento de viagens internacionais ou nacionais e o cancelamento/ adiamento de eventos coletivos;

Mudança no sistema de trabalho, dando dando preferência ao teletrabalho (home office) e a reuniões com terceiros à distância;

Flexibilização da jornada para que mães, pais e pessoas com responsabilidade de cuidado organizem seu trabalho na suspensão de atividades escolares;

– Antecipação de férias ou dispensa de trabalho para profissionais que estão no grupo de risco (idosos ou pessoas com comorbidades), cuja ocupação não permita teletrabalho;

– Recomendações de segurança cibernética para evitar ataques em locais externos à corporação;

– Adaptação de linhas para criar produtos de higienização de ambiente e de uso pessoal, como álcool gel, sabonetes e desinfetantes.

Esses planos corporativos são ainda mais importantes nas áreas com transmissão comunitária, onde se recomenda a redução de deslocamentos para o trabalho e o contato desnecessário entre as pessoas. Baseiam-se em um aprendizado recente de como as autoridades de saúde têm lidado e em práticas mais exitosas adotadas em outros países, que ressaltam a oportunidade dos empregadores em desempenhar um papel-chave nesse esforço de frear o contágio e de dar prioridade à saúde e bem-estar de seus colaboradores.

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A disparidade de gênero no mercado de trabalho http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/a-disparidade-de-genero-no-mercado-de-trabalho/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/a-disparidade-de-genero-no-mercado-de-trabalho/#respond Sat, 14 Mar 2020 07:00:40 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=70 Salários desiguais, desproporção de acesso a carreiras de nível hierárquico mais alto e baixo acesso a determinadas profissões. Essas são algumas das dificuldades que as mulheres encontram no mercado de trabalho.

Desde 2003, a série histórica produzida pelo Instituto Ethos do Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas nos aponta dados sobre as diferenças de gênero nas empresas brasileiras.

As mulheres estão sub-representadas no ambiente profissional. Apesar de a população feminina ser maior que a masculina e ter mais anos de educação, as mulheres superam os homens apenas nas posições mais baixas da hierarquia profissional.

Vários são os fatores que impactam nessas desigualdades, um deles, segundo relatório que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) lança anualmente, a fim de destrinchar as desigualdades de emprego no mundo, aponta que “as demandas enormemente desiguais que mulheres enfrentam em relação a cuidado e responsabilidades de casa continuam a se manifestar como desigualdades no mercado de trabalho”, de acordo com análise referente ao no de 2018.

Quanto a desproporção de mulheres no mercado de trabalho, levando-se em consideração a série histórica do “Perfil” e as pífias melhorias, a estimativa é que a sociedade brasileira irá demorar mais de 100 anos para alcançar a plena equidade de gênero no mercado de trabalho.

Mundialmente, a OIT prevê que a diminuição da desigualdade estacione entre 2018 e 2021. Hoje a média é que 48,5% das mulheres com mais de 15 anos participam do mercado de trabalho, enquanto a taxa é de 75% para homens. Na América Latina, a participação das mulheres é pouco maior do que 50%; a dos homens, de quase 80%.

O Brasil pertence ao grupo de países com a maior diferença entre homens e mulheres, de 30,5%.

E nas novas profissões?

“Das oito áreas profissionais que mais crescem no mundo, seis contratam mais homens do que mulheres”, destaca artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, do dia 9 de março de 2020, intitulado: Disparidade de gênero avança em profissões emergentes. Se esperávamos que após tanta luta por direitos e oportunidades iguais o novo mundo do trabalho e das profissões fosse diferente, nada disso acontece. Repetem-se as graves desigualdades de gênero no mercado de trabalho no Brasil e no mundo.

O texto de Luciana Coelho explica que o quadro se agrava se consideradas apenas as carreiras relacionadas à tecnologia pura, cuja remuneração e demanda tendem a aumentar mais rápido que as demais, mas nas quais as mulheres são, em média, só 20% dos profissionais. O que, segundo a autora, irá agravar o abismo de gênero, que ocorre há pelo menos 15 anos, como mostra levantamento do LinkedIn.

Nesse aspecto, três hipóteses são levantadas para explicar a situação.

A formação: há apenas 20% de mulheres formadas em ciências da computação, ou seja, faltam mulheres estudando computação;

Falta de representatividade: Allen Blue, vice-presidente para gerenciamento de produtos do LinkedIn, acredita que faltam modelos que inspirem as mulheres a trilhar esse caminho;

Redes de relacionamento excessivamente homogêneas: mesmo em áreas nas quais há representatividade feminina a sub-representação persiste, a exemplo da ciência de dados, em que há 31% de mulheres no mercado global, mas elas são apenas 25% do contingente empregado.

Neste cenário sistêmico de reprodução das desigualdades de gênero temos iniciativas paradigmáticas inovadoras e resilientes.

Durante a Conferência Ethos no Nordeste em 2019, conhecemos dois projetos sensacionais no campo da tecnologias criados, dirigidos e voltados para mulheres.

O programa “As MINAs”, coordenado por Natália Lacerda do Porto Digital: na ocasião, Natália observou que “as mulheres estão ficando de fora desse espaço que também é de poder econômico” e que “a solução é inverter o processo, abrir contratação apenas para mulheres e viabilizar um curso rápido para as selecionadas sobre linguagem de programação”. Ela revelou ainda que farão esforços para em 2020 “trazer o modelo de escolas de programação para mulheres para o Nordeste. Como o MariaLab e alguns que já existem em outras regiões”.

E a FabLab Recife que criou o Movimento Mulheres Makers, coordenado por Cris Lacerda e pela ativista Letícia Falcão:  Cris relembrou que toda a propaganda da década de 80 afastou as mulheres da área de tecnologia. “Era sempre o homem no computador e a mulher na cozinha.” E na era da inovação tecnológica onde quase tudo é novo e disruptivo, o velho preconceito impera com a exclusão das mulheres das oportunidades do mercado de trabalho.

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É trabalho escravo contemporâneo, sim! http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/03/05/e-trabalho-escravo-contemporaneo-sim/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/03/05/e-trabalho-escravo-contemporaneo-sim/#respond Thu, 05 Mar 2020 07:00:36 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=64 Na semana passada estreou em São Paulo o novo filme de Ken Loach, “Você não estava aqui”. Assistiu? Vamos conversar. Não assistiu? Vamos conversar também, mas assista!

É um filme triste, que me fez chorar. E pelos olhos lacrimejantes dos vizinhos de fileira, fez o mesmo com muitos outros. A tristeza e o silêncio que tomaram conta da sala vêm da certeza do caos que se transformou a vida dominada pela tecnologia e pela perda profunda de sentido, de propósito.

Críticos e colunistas declaram que o filme trata da uberização da vida. É uma afirmação contraditória porque, tentando condenar, termina por glamorizar e adjetivar positivamente a tragédia. Afinal muitos defendem esta uberização da vida. É a modernidade, a tecnologia a serviço das facilidades. Tornando todos empreendedores e patrões do tempo. É isso mesmo?

Neste caso, o ato de consumir vem a nós sem que precisemos tirar as pantufas. Bate na porta no tempo exato prometido, e pouco nos interessa o que aconteceu com que fez das tripas coração para que o nosso pacote chegasse são e salvo. É o conforto para fugir da mobilidade caótica das grandes cidades.

A rotina do entregador autônomo retratado por Loach não é uberização de nada. É a precarização radical das condições de trabalho. É trabalho escravo, sim. 

Por definição, ao menos no Brasil, o trabalho escravo contemporâneo ocorre quando quatro situações, que combinadas ou isoladas, estão presentes nas atividades laborais de um trabalhador ou trabalhadora: servidão por dívida; jornada exaustiva; trabalho degradante e a privação da liberdade de ir e vir.  

No filme, Ricky Turner (interpretado por Kris Hitchen) é um pai de família que trabalha feito um condenado, por dezenas de horas, sem tempo nem para ir ao banheiro. Se isso não é jornada exaustiva e trabalho degradante, do que se trata?

Ricky é impedido de alterar seu trajeto ou sua rotina mesmo que seja para ajudar o filho adolescente em conflito com a escola. Se isso não é privação do direito de ir e vir, do que se trata?

Seu chefe dispara o tempo todo a frase: “ Você não trabalha para nós, você trabalha conosco”. Afinal ele é “dono” do seu meio de produção, uma van comprada com financiamento da empresa de entregas e que deve ser paga mensalmente com o trabalho vinculado ao financiador. Se isso não é servidão por dívida, do que se trata?

É trabalho escravo sim, meu senhor e minha senhora. Vamos refletir por 30 segundos antes do dedo tocar naquele aplicativo de entrega de comida ou de compras nos supermercados.

Somos corresponsáveis por uma das piores formas de exploração do trabalho escravo contemporâneo.

Assista ao filme.

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Presidente ultrapassa limite constitucional ao convocar manifestação http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/presidente-ultrapassa-limite-constitucional-ao-convocar-manifestacao/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/presidente-ultrapassa-limite-constitucional-ao-convocar-manifestacao/#respond Thu, 27 Feb 2020 07:00:27 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=61 Espero que o Carnaval tenha acontecido para todxs como festa e alegria.

Agradeço as dezenas de comentários que a coluna da semana passada estimulou. Pensei em continuar dialogando na pauta das desigualdades, mas, como esse país é extremamente dinâmico e surpreendente, dá para manter a questão sob um outro ângulo.

Amanhecemos nesta quarta-feira de cinzas sem o necessário descanso. Fomos interrompidos por gravíssimos sinais de deterioração do debate político no país.  E isso tira o sono de qualquer um. Onde vamos parar?

Temos nossas causas, opiniões e nossas crenças sobre quase tudo. É legitimo e necessário os mais diferentes pontos de vista para um rico diálogo que encontre as soluções que precisamos para uma sociedade justa, sustentável e fraterna. 

Mas se não tivermos consenso, de novo esse tal de consenso, sobre os valores democráticos, republicanos e constitucionais que devem reger nossa vida em sociedade e na política, aí mora o perigo. Aí não saberemos mesmo onde vai parar.

Nossa Constituição garante a divisão entre os poderes da República: Executivo, Judiciário e Legislativo. Cada um tem suas responsabilidades e cada um deve garantir a autonomia e livre funcionamento dos outros. É o mínimo que se espera de uma República.

Quando o presidente da República tweeta ou retwetta, tanto faz, convocando uma manifestação popular e militar para atacar o Congresso Nacional (a democracia), ele está ultrapassando o limite constitucional da sua função e cometendo crime de responsabilidade com o cargo. Está rasgando a Constituição e colocando em grave risco a democracia e suas instituições.

Quarta-feira de cinzas no passado era dia de catar os cacos, os trapos das fantasias, de tomar canja de galinha e muita água. Que saudade! 

Em 2020 vivemos uma quarta-feira de aflição, sem sossego com o que vem pela frente.  Do Coranavirus, que chegou por aqui, à tresloucada e incerta rota que a política nos reserva. Mais do que nunca vale nos perguntar, buscando respostas que nos tirem do silêncio, como afirmou o ex-presidente FHC: “Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto tem voz…”

Onde vamos parar?

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Onde vamos parar? http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/20/onde-vamos-parar/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/20/onde-vamos-parar/#respond Thu, 20 Feb 2020 07:00:29 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=58 Pense em qualquer indicador que qualifique uma sociedade ou um país que você gostaria de viver. Melhor em educação e saúde, melhor em longevidade, melhor em qualidade ambiental, melhor em equidade de renda, melhor em empregos e oportunidades, melhor em igualdade na política, melhor em equidade de gênero, melhor em transparência e integridade, etc.

Este lugar existe? Sim. São os países escandinavos. Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Dinamarca ocupam o topo de qualquer um dos índices sócio econômicos existentes. 

Mas como eles chegaram lá, se na década de 70 eram os países mais pobres da Europa? O fundamental foi a construção de um pacto social lastreado pelo diálogo, no senso de justiça, no consenso de combater as desigualdades e garantir um estado de bem-estar social para todos. 

E o nosso Brasil? Afinal é o nosso país, onde vivemos e onde estamos em permanente desafio de construir uma sociedade sustentável e melhor para todos.

Onde vamos parar se a roda que roda continuar rodando com a marca de um dos países mais desiguais do mundo?  

Somos o sétimo pais mais desigual do mundo ainda que sejamos a oitava economia do mundo.   

Esta semana vários jornais divulgaram o lucro líquido dos bancos em 2019 que foi de 81,5 bilhões de reais; e o montante que foi distribuído aos acionistas na casa de 58 bilhões de reais. Este valor é 56,5% maior do que o valor 2018

Como a renda e a riqueza de um pequeníssimo grupo de pessoas pode crescer 56,5% em no ano de 2019 enquanto a economia, o PIB brasileiro, cresceu míseros 1,2%? 

Qual é a mágica?  Não há mágica e sim a existência de mecanismos econômicos e tributários que drenam quase toda a riqueza produzida para os bolsos do sistema financeiro e dos grandes conglomerados empresariais.

Em 2018, a Comissão de Valores Mobiliários, uma autarquia federal ligada ao Ministério da Economia que é responsável por regulamentar, fiscalizar e até punir ações no mercado de valores mobiliários, divulgou a lista dos salários dos presidentes das maiores companhias de capital aberto. 

Quanto ganham de salários os principais executivos das maiores empresas?  Quem chuta um valor? Imagine um número grande e depois multiplique por 40, e para chegar ao salário anual multiplique tudo isso por 12.

Como exemplo, o presidente do Itau-Unibanco recebeu, em 2018, 4 milhões de reais mensais, somente de salários. Registro em carteira como dizemos. Isso porque ainda há a remuneração variável pelos lucros obtidos e dividendos se for acionista.

O presidente da Vale, na época do desastre em Brumadinho provocado pela empresa, recebia salário mensal de quase 2 milhões de reais.  

Estes valores estratosféricos são ainda mais impactantes porque os salários médios destas empresas são milhares de vezes menores, estampando uma das mais graves injustiças sociais: a desigualdade de renda. 

Lembrando do exemplo escandinavo, por lá há regras que foram acordadas que limitam a diferença entre o maior e o menor salário em uma empresa. Não ultrapassam 10 vezes.

Vamos combinar que o combate às desigualdades de renda, de gênero, de raça, de poder é o mais importante desafio para a sociedade brasileira? 

E se temos a capacidade de aprender com as experiências de outros, há urgência em buscar o diálogo de amplos setores da sociedade brasileira para um novo contrato social que construa o consenso necessário para combater as desigualdades e garantir um estado de bem-estar social para todos. Nada muito diferente do que praticar o terceiro artigo da Constituição Federal.

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Enchentes no Sudeste: A natureza desaba sobre as cidades brasileiras http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/13/enchentes-no-sudeste-a-natureza-desaba-sobre-as-cidades-brasileiras/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/13/enchentes-no-sudeste-a-natureza-desaba-sobre-as-cidades-brasileiras/#respond Thu, 13 Feb 2020 07:00:13 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=53 Nunca passei pelo desespero de sentir a água subindo e nada poder fazer. De estar frente a frente com um tsunami sem qualquer rota de fuga.  As corredeiras incontroláveis que vão invadindo tudo e derrubando a cidade como um castelo de cartas. As encostas e relevos se dobram e desabam sobre seus indefesos ocupantes. 

Violenta, mortal e implacável, as enchentes destroem a vida e os sonhos de milhões de pessoas que vivem nas grandes cidades brasileiras. Perversa, ela atinge os mais vulneráveis e mais pobres como se fosse mandada dos céus por quem deseja exterminar as periferias indefesas e abandonadas em uma massiva higienização social. O povo do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo foram suas últimas vítimas. Outras estão no radar meteorológico.

Nós construímos esta armadilha ao longo de nossa história. Negamos a necessidade de as cidades serem bens públicos capazes de acolher e garantir qualidade de vida para todos. Em harmonia com a natureza e com ela sempre renovar nosso modo de viver.

Enterramos nossos córregos, fontes e rios. E sobre as águas enterradas erguemos solos impermeáveis que desterritorializam nossa visão e nossa relação com a natureza. Silenciamos com piche e concreto, tapando nossos olhos e ouvidos para não sentir a tristeza nem escutar os gritos de uma natureza, que aprisionada, se mantém viva sob nossas ruas e edifícios.

A natureza que desaba dos céus sobre as cidades parece querer ressuscitar e libertar a natureza que destruímos e aprisionamos. Tudo vira um só.

Os eventos climáticos extremos são manifestações da revolta da natureza pela destruição da vida do planeta Terra. É o alerta final para a sobrevivência da espécie humana.  

Ou mudamos nosso modo de governar, de  viver, de produzir e de consumir resgatando a terra viva, as florestas, as nascentes e águas limpas e livres, ou desapareceremos.

Este é o único plano de adaptação possível para seguirmos vivos e com algum futuro para as novas gerações. 

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Por mais e melhores pios! http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/06/por-mais-e-melhores-pios/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/02/06/por-mais-e-melhores-pios/#respond Thu, 06 Feb 2020 07:00:42 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=50 Cara Angela Alonso, 

Entendemos seu importante recado em artigo na Folha de S. Paulo (“Mercado paira sobre todos e não dá um pio sobre obscurantismo), mas o Ethos piou, e tem piado muito.

Sempre sintonizado com os princípios da responsabilidade social das empresas, por diversas vezes deixamos claro o importante papel que podem cumprir em tempos de ameaças à democracia e às liberdades democráticas. 

Um passo inicial, mas fundamental, é desconstruir o conceito abstrato da instituição “Mercado”. Há inúmeras empresas que se pautam por princípios e políticas de sustentabilidade e, para que um número maior de lideranças vocalize na direção de uma economia sustentável, precisamos enfatizar que esse grupo não é homogêneo. Há visões – cada vez mais – heterogêneas, que se manifestam de diferentes formas, individual ou coletivamente. 

O presidente da maior gestora de fundos de investimentos do mundo, a BlackRock, declarou este ano que não irá investir mais em empresas que não sejam sustentáveis e responsáveis socialmente. “Para prosperar, cada companhia terá que entregar não apenas performance financeira, mas também mostrar como faz uma contribuição positiva para a sociedade”. E isso inclui desinvestir de negócios com alto risco para a sociedade e se posicionar publicamente sobre temas como fundamentais à sustentabilidade da economia.

Outro exemplo, vindo do setor industrial. No jornal Folha de S.Paulo, três importantes líderes empresariais provocaram debate público (Morte Anunciada, 21 jan 2020) acerca da falta de representação de empresas que pensam dessa forma. “Não acreditamos em sociedade bem-sucedida que se ancora em duas ou três variáveis e estamos longe de concordar que a economia, sozinha, traga a paz”, afirmaram eles. Corroboramos com a ideia de que a representação tradicional não é suficiente para acomodar tal visão moderna sobre a economia. 

Concordamos e entendemos o direcionamento da crítica feita pelo seu artigo no sentido de que o volume desses posicionamentos poderia e deveria ser mais alto. Há muitas empresas e lideranças ouvindo e ao mesmo tempo, querendo falar, mas que por distintas razões ainda não o fizeram. Há 500 empresas associadas ao Ethos que, de alguma forma, atuam em prol de uma sociedade mais justa e sustentável. Nosso papel é gerar mais espaços, mobilizar mais empresas e apoiá-las nessa direção. Mas precisamos de muitos outros que façam o mesmo.

Continuaremos a piar sempre que preciso!

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Zapeando e conversando http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/01/27/zapeando-e-conversando/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2020/01/27/zapeando-e-conversando/#respond Mon, 27 Jan 2020 15:23:42 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=42 Saúde e alegria 2020 para todxs!

Voltando de uma pausa e de um “detox virtual” quero compartilhar a experiência de viajar com minha esposa Andrea e meu filho Matteo, de 14 anos, por lugares desconhecidos presencialmente, mas parte importante de nossas subjetividades. Percorremos a costa da Califórnia nos EUA por 25 dias.

Passamos por estradas e cidades que fazem parte da nossa subjetividade construída pelos filmes, músicas, imagens e histórias que nos identificam. Eu, avô de 65 anos, amante do rock e do movimento hippie, me emocionei com as memórias dos lugares onde tudo isso nasceu.

Matteo, um nativo digital da geração Z que zapeia tudo e mistura todos os canais, observava atento as minhas reações e, generoso como é, demonstrava compreensão pelos meus “dejavus”. Nossas conversas nestas descobertas sempre chegavam a um assunto. Afinal, o país da maior economia do mundo resolveu seus problemas sociais e ambientais?

Vivemos em São Paulo, cidade que completa 466 anos amanhã com muito pouco a celebrar já que concentra a maior desigualdade social do Brasil com milhares de sem teto vivendo nas suas ruas, praças e becos.

Nossa visão sobre uma grande cidade no Brasil está impregnada por esta realidade, mas o que acontece com nossos sentimentos e percepções quando chegamos nas colinas de Palo Alto, do Vale do Silício e de Hollywood e nos deparamos com um cenário crítico de pobreza e de desigualdades?

Todos os dias os canais de TV locais e nacionais exibiam matérias sobre o crescimento da população dos sem teto de Los Angeles e San Francisco. Cobram medidas, mas que pela repetição exaustiva não acontecem.

Por que a região rica do planeta região não consegue promover e garantir qualidade de vida para todxs? As desigualdades aumentaram em quase todo o mundo. Este fenômeno, no entanto, aconteceu com ritmos diferentes de acordo com regiões e que apontam um forte aumento nos EUA. Esta é a conclusão de um relatório de 2017 coordenado pelo economista francês
Thomas Piketty.

Na terça feira passada, 21/01, a ONU lançou globalmente o Relatório Social Mundial 2020, que revela a que a desigualdade cresce no mundo, especialmente em países desenvolvidos o que pode acelerar as crises e divisões entre as nações. Mais de dois terços da população mundial vive em países onde as desigualdades aumentaram.

De volta ao Brasil e a São Paulo, eu e Matteo continuamos as conversas provocadas pela viagem. Acredito que a cada dia estamos mais conscientes e disposto a dialogar e zapear por um mundo melhor para todxs.

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A COP 25 fará diferença? http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2019/12/13/a-cop-25-fara-diferenca/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2019/12/13/a-cop-25-fara-diferenca/#respond Fri, 13 Dec 2019 07:00:38 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=39 O que há de comum entre o ator Javier Bardem, a líder indígena Sônia Guajajara e a ativista Greta Thumberg?

Juntos, em Madri, estiveram na maior manifestação pelo clima já realizada em uma conferência dos países signatários da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP de 2019.

Juntos, cobraram de todos os governos do mundo o cumprimento de seus compromissos e a implementação de suas responsabilidades com o futuro do planeta e da humanidade. Juntos, celebraram a capacidade de mobilização popular e lembraram que sem “o povo na rua”, como definiu Greta, não conseguiremos a pressão e as políticas públicas necessárias para frear as emissões de gases de efeito estufa (GEE) que estão provocando o aquecimento global.

E, a cada dia que passa, precisamos acelerar mais para que a média de aumento da temperatura do planeta fique abaixo de 1,5 grau Celsius até 2030, valor estimado pelos cientistas como o máximo para a preservação da biodiversidade e tolerância dos ecossistemas. E já estamos próximos do aumento de 1,0 grau Celsius.

Segundo cientistas da Nasa e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (Noaa, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, a temperatura da Terra em 2018 foi a quarta mais alta em 140 anos. E a notícia mais crítica é que os compromissos de redução de GEE até agora firmados pelos países são insuficientes para a meta estabelecida no Acordo de Paris.

Vivemos os efeitos profundos que exigem um estado de alerta e de reconhecimento da urgência. A cidade de Recife, por exemplo, reconheceu e declarou estado de emergência climática durante a Conferência Brasileira de Mudanças do Clima realizada em novembro deste ano, somando-se a outras 30 cidades de todo o mundo.

Os eventos climáticos extremos como secas prolongadas, inundações e mudanças nos ecossistemas chegaram para ficar nas nossas vidas por muito tempo. As mudanças e as adaptações necessárias para a sobrevivência exigem ações imediatas de todos, tanto de quem produz e como produz quanto de quem consome e o que consome. Pode parecer óbvio, mas vale repetir: ou mudamos o modo de produzir e de consumir, freando a corrida em direção ao precipício, ou saltamos de uma vez, destruindo a chance de nos mantermos vivos no planeta Terra.

Os acordos entre os países e as metas estabelecidas ontem não são mais suficientes no dia de hoje. A dinâmica da crise climática se espalha pelo mundo. Temos que acelerar e aumentar a ambição das mudanças necessárias.

A COP 25, que se encerra nesta sexta-feira (13), somente fará a diferença se endereçar respostas concretas e urgentes sobre estas questões.

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Prisões autoritárias em Alter do Chão (PA) incendeiam nossa democracia http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2019/11/28/prisoes-autoritarias-em-alter-do-chao-pa-incendeiam-nossa-democracia/ http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/2019/11/28/prisoes-autoritarias-em-alter-do-chao-pa-incendeiam-nossa-democracia/#respond Thu, 28 Nov 2019 19:03:28 +0000 http://caiomagri.blogosfera.uol.com.br/?p=35 Ilegalidades, abuso de poder e tentativas de criminalização de organizações que atuam para proteger os recursos naturais: o que está acontecendo em Alter do Chão (PA) é muito grave, mas é só a ponta do iceberg de algo que tem sido anunciado pelos integrantes do primeiro escalão do governo federal.

O que está em andamento são farsas, fake news e manipulações de dados e informações para criminalizar organizações sérias, que têm amplo histórico de engajamento em favor da preservação da região. Ao contrário das acusações, essas organizações trabalham justamente contra grileiros, invasores que tomam áreas para construir condomínios, grupos que defendem mudanças no  plano diretor de Santarém para promover a verticalização de áreas de preservação às margens do rio Tapajós.

A ONG Saúde e Alegria tem atuado no campo da saúde e da cultura, mas também na defesa da legalidade para garantir que a floresta continue em pé. Afinal, a floresta é também um ativo econômico de altíssimo valor para o desenvolvimento das comunidades. 

E esse modelo predador e extrativista, que tem se anunciado nos últimos meses, é uma grande ameaça, é a intenção de promover o colapso do modelo oposto, do modelo sustentável em que empresas, organizações da sociedade civil, comunidades tradicionais, povos indígenas e poder público atuam juntos para proteger a floresta. É isso o que está em jogo. 

Nesse sentido, é importantíssima a declaração feita recentemente pelo Ministério Público Federal requisitando todas as provas. Afinal, tudo até agora indicava que os incêndios ocorridos na região foram resultado da ação de grileiros e garimpeiros ilegais, não de organizações da sociedade. Para mim, esta é a declaração mais contundente contra a ação da Polícia Civil do Pará.

Mas o problema é ainda maior e não é pontual. O clima no Pará está tenso há algum tempo. São ameaças, tentativas de assassinato, violências no campo. A ação da Polícia Civil agora só incendeia ainda mais a situação. Vai na direção oposta à esperada de uma instituição como essa, que seria a de contribuir para o consenso e a paz.

Os jovens detidos estavam lá porque fizeram uma opção pelo bem-estar próprio e também pelo comum. Preferiram levar uma vida simples, longe de suas origens, em nome de um trabalho pela sociedade. Ninguém sabe quais são as reais acusações contra eles, mas, ainda assim, eles estão mantidos presos ilegalmente. 

Afinal, não têm antecedentes criminais, têm endereço e vínculo empregatício. Não há nada que indique, portanto, que eles representem algum risco para as investigações. Tudo, aliás, vai no sentido contrário a este. Já houve esclarecimento sobre as acusações de que as organizações teriam recebido investimento externo. 

Como sociedade civil, precisamos nos posicionar. Precisamos cobrar transparência, a ação do judiciário e a punição urgente dos reais culpados. Quem são eles? Onde estão? Por que não estão sendo julgados?

Aqui em Belém (PA), onde acontece agora a Conferência Ethos, estamos abrindo o debate e espaço para manifestações. Empresas sérias, como a Natura, têm se manifestado em apoio à Saúde e Alegria. Precisamos pressionar o Ministério Público e a Polícia Federal para que ajam, e convocar as empresas parceiras das organizações da sociedade civil para que não fiquem caladas!

Estamos à beira da COP e tudo isso será levado para lá. Discutiremos internacionalmente sobre as ameaças que estão sendo feitas contra os direitos humanos, os direitos fundamentais e os direitos ambientais. Intelectuais e pessoas públicas em geral precisam se posicionar de maneira clara!

É dramático, mas o Brasil está em um caminho muito crítico para a nossa democracia. À medida em que o que estamos vivendo é discutido em âmbito internacional — e é o que vai acontecer na COP de Madrid — aumenta a desconfiança contra o Brasil. E isso afeta diretamente os investimentos no país. 

Ao contrário do que defende o ministro Paulo Guedes, medidas autoritárias como o AI-5 só afastam investimentos. Quem quer investir em um país inseguro? Quem quer investir em um país que trata com medidas de exceção algo que faz parte de qualquer democracia, como manifestações de rua? Isso só gera insegurança e desconfiança. 

Um ambiente instável, com clima tenso e radicalizado, é péssimo para os negócios. O que atrai investimentos é uma democracia sólida e permanente, onde há garantia da defesa dos direitos. 

Estamos terminando um 2019 tenso, crítico e com grandes lições que precisam ser apreendidas com urgência. Não existe país próspero em um ambiente de exceção. É preciso agir. E rápido.

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