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Caio Magri

Por mais e melhores pios!

ECOA

06/02/2020 04h00

Cara Angela Alonso, 

Entendemos seu importante recado em artigo na Folha de S. Paulo ("Mercado paira sobre todos e não dá um pio sobre obscurantismo"), mas o Ethos piou, e tem piado muito.

Sempre sintonizado com os princípios da responsabilidade social das empresas, por diversas vezes deixamos claro o importante papel que podem cumprir em tempos de ameaças à democracia e às liberdades democráticas. 

Um passo inicial, mas fundamental, é desconstruir o conceito abstrato da instituição "Mercado". Há inúmeras empresas que se pautam por princípios e políticas de sustentabilidade e, para que um número maior de lideranças vocalize na direção de uma economia sustentável, precisamos enfatizar que esse grupo não é homogêneo. Há visões – cada vez mais – heterogêneas, que se manifestam de diferentes formas, individual ou coletivamente. 

O presidente da maior gestora de fundos de investimentos do mundo, a BlackRock, declarou este ano que não irá investir mais em empresas que não sejam sustentáveis e responsáveis socialmente. "Para prosperar, cada companhia terá que entregar não apenas performance financeira, mas também mostrar como faz uma contribuição positiva para a sociedade". E isso inclui desinvestir de negócios com alto risco para a sociedade e se posicionar publicamente sobre temas como fundamentais à sustentabilidade da economia.

Outro exemplo, vindo do setor industrial. No jornal Folha de S.Paulo, três importantes líderes empresariais provocaram debate público (Morte Anunciada, 21 jan 2020) acerca da falta de representação de empresas que pensam dessa forma. "Não acreditamos em sociedade bem-sucedida que se ancora em duas ou três variáveis e estamos longe de concordar que a economia, sozinha, traga a paz", afirmaram eles. Corroboramos com a ideia de que a representação tradicional não é suficiente para acomodar tal visão moderna sobre a economia. 

Concordamos e entendemos o direcionamento da crítica feita pelo seu artigo no sentido de que o volume desses posicionamentos poderia e deveria ser mais alto. Há muitas empresas e lideranças ouvindo e ao mesmo tempo, querendo falar, mas que por distintas razões ainda não o fizeram. Há 500 empresas associadas ao Ethos que, de alguma forma, atuam em prol de uma sociedade mais justa e sustentável. Nosso papel é gerar mais espaços, mobilizar mais empresas e apoiá-las nessa direção. Mas precisamos de muitos outros que façam o mesmo.

Continuaremos a piar sempre que preciso!

Sobre o Autor

Graduado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), foi gerente de políticas públicas da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, além de coordenador do Programa de Políticas Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (SP). Em 2003, integrou a assessoria especial do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva sob a coordenação de Oded Grajew. Atua no Instituto Ethos desde 2004, quando começou como assessor de Políticas Públicas. Em 2005, tornou-se gerente executivo de Políticas Públicas; em 2014, diretor executivo; e, em 2017, foi nomeado diretor-presidente do Instituto Ethos. Participa como membro dos conselhos do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Transparência Pública e Combate à Corrupção-CGU, do Pró-Ética, do Comitê Brasileiro do Pacto Global (CPBG) e da Rede Nossa São Paulo.

Sobre o Blog

Com foco em responsabilidade social corporativa, aborda tanto as questões críticas quanto as boas práticas nas agendas das desigualdades, dos direitos humanos, de integridade e ética, e do meio ambiente, a fim de compartilhar a contribuição de diferentes atores sociais - empresas, academia, organizações e poder público – em busca de uma sociedade sustentável e justa.